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domingo, 26 de agosto de 2012

Lamento.







Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. [...]
Vinicius de Morais,

Reciclagem de caderno.

Já fazia algum tempo que a vontade de customizar algumas coisinhas e mostrar aqui no "LE VOYAGE"  estava me matando. Eis que aqui, está a primeira de muitas. Essa é simples e prática, fiz na madrugada de hoje em menos de uma hora. Qualquer pessoa com senso de direção (nem precisa ter boa coordenação motora) pode ter um lindo caderninho, do jeito que preferir, e o melhor, exclusivo. E como diria Fernando Anitelli: "Reciclar a palavra, o telhado e o porão...
Reinventar tantas outras notas musicais...
Escrever o pretexto, o prefácio e o refrão...
Ser essência... muito mais..." {:


Customizando o caderninho:
-Materiais: 




- Resultado final:




Não achei necessário fazer um passo a passo. É bem fácil, como encapar os livros, só que com tecido. ^^


(Comprei um metro desse tecido  liindo por R$ 5,30 e o caderninho ganhei no trabalho ;D)







Ysraene K. Cardoso,

sábado, 25 de agosto de 2012

Carta aos jovens Baudelaire,


"Queridos filhos desde que deixamos o país sentimos a sua falta, certos acontecimentos nos forçaram a prorrogar nossa viagem. Um dia quando forem mais velhos saberão mais sobre os nossos amigos e os perigos que encontramos. O mundo as vezes pode parecer um lugar hostil e sinistro mais acreditem existe muito mais bondade no mundo do que maldade, só precisam procurar com vontade, e o que pode parecer desventuras em série pode ser o primeiro passo de uma jornada.
Esperamos logo tê-los em nossos braços mais se essa carta chegar antes do nosso retorno saiba que os amamos, temos muito orgulho em saber que não importa o que acontecer vocês três vão cuidar uns dos outros com carinho coragem e desprendimento, como sempre o fizeram, e por favor meus queridos nunca se esqueçam de uma coisa, não importa onde estivermos enquanto vocês estiverem juntos terão um familia e um lar.
Seu pais que os amam."

[...] A passagem de uma tocha é um rito de passagem que pode assumir muitas formas mais talvez a menos conhecida e mais surpreendente seja a passagem de uma luneta.

Querido leitor a pessoas no mundo que não conhecem  sofrimento, e encontram conforto em filmes alegres com passarinhos cantando e elfos risonhos. Há pessoas que sabem que sempre há um mistério a ser resolvido e se dedicam a investigar e escrever qualquer prova importante desse segredo crucial. Pessoas que acreditam que sempre tem um jeito, e fico feliz em dizer que pessoas assim ficam feliz em apenas estarem juntas.

O lobo da Estepe.

[...] São espasmos de gozo, ambições sem termo,
mãos de assassinos, de usuários, de santos,
o enxame humano fustigado pela angústia e o prazer.
Lança vapores asfixiantes e pútridos, crus e cálidos,
respira beatitude e ânsia insopitada,
devora-se a si mesmo para depois se vomitar [...]








    Os Imortais,


domingo, 5 de agosto de 2012

CASA EMBRUXADA, MORADOR VISIONÁRIO

CAPÍTULO VII

Gilliatt era o homem do sonho. Vinham daí as suas audácias e as suas hesitações.
Tinha idéias propriamente suas.
Havia talvez nele a ligação do alucinado e do iluminado. A alucinação entra na
cabeça de um campônio como Martin, do mesmo modo que na cabeça de um rei
como Henrique IV. O Desconhecido faz surpresas ao espírito do homem. Rasga-se
bruscamente a sombra, deixa ver o invisível; depois fecha-se. Tais visões são às
vezes tr
ansfiguradoras; de um condutor de camelos faz Maomé, de uma cabreira
faz Joana d'Arc. A solidão desprende uma certa quantidade de desvario sublime. É
o fumo da sarça ardente. Resulta daí um misterioso estremecer de idéias: o doutor
dilata-se até o vidente, o poeta até o profeta; resulta Horeb, Cédron, Ombos, a
embriaguez do louro mastigado da Castália, as revelações do mês Busion; resulta
Peléia em Dodona, Femônoe em Delfos, Trofônio em Lebadéia, Ezequiel no Kebar,
Jerônimo na Tebaida. Na maior parte dos casos o estado visionário abate o
homem, e o embrutece. O embrutecimento sagrado existe. O faquir carrega a sua
visão, como o habitante alpino a sua papeira. Lutero falando aos diabos no celeiro
de Wurtemberg, Pascal tapando o inferno com o biombo de seu gabinete, o obi
negro, dialogando com o deus branco chamado Bossum, é o mesmo fenômeno
diversamente produzido, segundo a força e a dimensão de cada cérebro. Lutero e
Pascal são e ficam sendo grandes; o obi negro é imbecil.
Gilliatt não era tanto, nem tão pouco. Era um pensativo. Nada mais. Contemplava
a natureza de um modo singular.
Tinha visto algumas vezes, na água do mar, completamente límpida, animais
inesperados, de grandes dimensões, de formas diversas, os quais, fora da água,
assemelhavam-se a cristal mole, e, tornados à água, confundiam-se com ela, pela
identidade de transparência e de cor; disto concluía ele que, se a água era
habitada por transparências vivas, bem podia ser que o ar fosse habitado por
transparências igualmente vivas. Os pássaros não são os habitantes, são os
anfíbios do ar. Gilliatt não acreditava no ar deserto. Dizia ele: se o mar está cheio
de criaturas, por que motivo a atmosfera será vazia? Criaturas cor do ar podem
escapar aos nossos olhos por causa da luz; quem nos prova que essas criaturas
não existem? A analogia indica que o ar deve ter os seus peixes, como o mar; os
peixes do ar serão talvez diáfanos, benefício da providência criadora, tanto a
nosso favor, como a favor deles; deixando passar a luz através da sua forma, e
não fazendo sombra, ficam ignorados de nós, e nada poderemos saber. Gilliatt
imaginava que, se se pudesse esvaziar a atmosfera, pescando-se no ar como num
tanque, achar-se-ia uma porção de criaturas surpreendentes. E, acrescentava ele,
na sua cisma, muitas coisas se explicariam.
A cisma, que é o pensamento no estado nebuloso, confina com o sono e preocupase
a respeito dele, como de sua própria fronteira. O ar habitado por transparências
vivas seria o começo do Desconhecido; além abre-se a vasta porta do possível.
Outros seres e outros fatos. Nada sobrenatural; mas a continuação oculta da
natureza infinita. Gilliatt, no ócio laborioso que compunha a sua existência, era um
observador estranho e fantástico. Chegava a observar o sono. O sono está em
contato com o possível, que também chamamos o inverossímil. O mundo noturno
é um mundo. A noite é um universo. O organismo material humano, sobre o qual
pesa uma coluna atmosférica de 15 léguas de altura, chega à noite fatigado, cai de
fraqueza, deita-se, repousa; fecham-se os olhos da carne; então, naquela cabeça
adormecida, menos inerte do que se crê, abrem-se outros olhos, aparece o
Desconhecido. As coisas sombrias do mundo ignorado tornam-se vizinhas do
homem, ou porque haja verdadeira comunicação, ou porque as distâncias do
abismo tenham crescimento visionário; parece que as criaturas invisíveis do
espaço vêm contemplar-nos curiosas a respeito da criatura da terra; uma criação
fantasma sobe ou desce para nós, no meio de um crepúsculo; ante a nossa
contemplação espectral, uma vida que não é a nossa agrega-se e dissolve-se,
composta de nós mesmos e de um elemento estranho; e aquele que dorme, nem
completo vidente, nem completo inconsciente, entrevê as animalidades estranhas,
as vegetações extraordinárias, as cores lívidas, terríveis ou risonhas, as larvas, as
máscaras, os rostos, as hidras, as confusões, os luares sem lua, as obscuras
decomposições do prodígio, o crescer e o decrescer no meio da espessura turvada,
a flutuação de formas nas trevas, todo esse mistério que chamamos sonho, e que
não é mais do que a aproximação de uma realidade invisível. O sonho é o aquário
da noite.
Assim sonhava Gilliatt. (Victor Hugo, Os trabalhadores do Mar)